Encontrei esse livro da Alaide Lisboa de Oliveira - A Bonequinha Preta e também o conto de mesmo nome abaixo:
A bonequinha preta
Era uma vez uma bonequinha preta, que morava em uma linda casa
com Mariazinha. As duas brincavam o tempo todo, e até dormiam juntas quando
estavam cansadas.
Todos os outros brinquedos dormiam em outros lugares, pois
Mariazinha queria sempre a sua bonequinha junto. Mas, o que ela não sabia, era
que as bonequinhas não dormem como as meninas, aquele tempo todo, sem ver o
mundo aqui fora. Eram diferentes das meninas e meninos de verdade em muitas
coisas.
Mesmo assim, ensinava à sua bonequinha preferida tudo o que
aprendia com a mamãe: tomar banho, escovar os dentes, trocar roupas limpas, e
tudo mais.
Naquele dia, quando foi dormir um pouquinho depois do
almoço, explicou direitinho à bonequinha preta que ela não deveria subir
sozinha na janela:
– A janela é muito
perigosa! A criança pode cair lá fora e nunca mais voltar para casa. Papai
disse que precisa ter gente grande perto sempre que a gente quiser ir à janela.
Mariazinha viu que a bonequinha entendeu tudo muito bem,
como sempre. Então dormiu sossegada…
A bonequinha preta também começou a dormir, mas,… Uma voz
diferente, forte e interessante entrava pela janela trazendo uma novidade que
ela não conhecia:
– Verdureiro,
verdureiro!
O que será isso pensou. A Mariazinha, que sempre sabia tudo, estava
dormindo e não podia contar nada sobre verdureiros, que deviam ser seres novos
e sensacionais! Ela precisava ver!
Talvez seja isto: um cara todo verde!
Ou quem sabe isto: alguém saindo assim do verde.
Também podia ser um destes: nunca tinha visto um.
– Verdureiro,
verdureiro!
Ir ou não ir só um pouquinho na janela? A dúvida passou
rapidinho e logo ela já estava lá, tentando olhar tudo. Ela não queria cair,
mas estava difícil ver. Subiu só mais um tantinho e tibum! Caiu lá embaixo!
Por sorte, o verdureiro estava passando bem na hora, e ela
caiu em cima das verduras fofinhas de seu grande cesto. Ela era tão levinha que
ele nem percebeu e continuou andando pelas calçadas com seu canto:
– Verdureiro,
verdureiro!
Passou por várias ruas onde a bonequinha preta nunca tinha
ido, cada vez mais longe…
Então o verdureiro decidiu voltar para casa, pois já era
tarde. Entrou pela garagem escura, sem ver a assustada bonequinha que estava
ali. E subiu as escadas para chegar em casa, largando o cesto no chão.
A bonequinha preta
começou a chorar, de tanto medo que estava daquele lugar estranho e escuro.
Cair da janela assim tinha sido uma grande besteira, e Mariazinha não ia gostar
nada de ter sido desobedecida. Então chorou e chorou mais ainda, sem nenhum
consolo…
Nenhum?
Um gatinho que ia passando por ali ouviu aquele choro tão
doído e ficou com muita pena da bonequinha. Tentou fazer gracinhas para ela
sorrir, mas não deu certo.
– Então, o que posso
fazer por você?
– Não sei, eu fui
olhar só um pouquinho na janela, sem saber. Ela disse para eu não ir sozinha, e
agora perdi minha linda!
– Talvez eu possa
ajudar. Os gatos passeiam pela noite, e se você me contar como é sua casa,
talvez eu a encontre.
– É uma linda casa branca,
com janelas azuis, e uma menininha dentro, que deve estar muito triste agora.
E assim, o gato saiu pelas ruas à noite, procurando a casa
certa. Procurou, procurou e…
Encontrou aquela linda casa branca, com janelas azuis, e uma
linda menininha que chorava muito.
-Vamos lá buscar sua
bonequinha preta que caiu no cesto do verdureiro!
E lá foram os dois.
Quando chegaram, foi aquele abraço! Toda a choradeira passou
e as duas se prometeram nunca mais se separar. Voltaram juntas para casa, mas,
na hora de se despedir do gato, ficaram com tanta pena, que o convidaram a
morar com elas na linda casa. Ele gostou muito da idéia.
Assim, a história acaba com todos muito felizes!
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